Sempre Hilda Hilst. Sou nuances: há dias que morro, há dias que vivo.
I
É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora
E sozinha supor
Que se estivesses dentro
Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora
Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria
O sumo do teu canto.
Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza
E sorver reconquista a cada noite
Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:
A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo.
E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.
X
Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, Dionísio, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa
E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.
Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, Dionísio, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.
Curiosidade:
ODE DESCONTÍNUA E REMOTA PARA FLAUTA E OBOÉ. DE ARIANA PARA DIONÍSIO.
Seleção de poemas que deram origem à parceria de Hilda com o músico Zeca Baleiro em CD homônimo.
Relato: A Heall All
A heall all(cura a tudo) seria uma flor apenas. Eu, presa em minha casca, vícios e experiências...seria uma menina apenas--ou talvez uma mulher. Ah! a simbologia dos gestos, cores(roxas de cura) e a necessária ambiguidade das coisas que não vem prontas... isso é então o que me humaniza?
Minha pequena flor floresce alheia ao significado que lhe é dado. Sua inocência, seu nome peculiar e a cor da cura não lhe importam. À minha pequena flor, cabe apenas esticar as suas pétalas, espreguiçar ao acordar e ser, não significar.
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