terça-feira, 29 de março de 2011

Ocupada

De tanto gritar ante ao impenetrável muro da casa do futuro.
Instalou-se um algo oco no espaço de agora.
E os momentos meus passaram a ser entregues
às pessoas de outrora, outros temas, outros papos.

Não sinto mais sua falta nessas minhas horas, horas vagas
Vivência perigosa, você me perdeu um pouco.

sexta-feira, 25 de março de 2011

50 fatos sobre mim ou Muitos dos meus esqueletos no armário.

Estou gostando de conhecer melhor meus amigos do blogger via entrevistas e afins, então, decidi postar algumas coisas sobre mim...
1) Nesse exato momento o que tenho pensado é "mãe de menos falta, mãe demais sobra."
2) Tinha/tenho síndrome de Peter Pan diagnosticada. Percebi que minha terapia estava me levando à cura o dia que deixei de usar mochila e tênis o tempo todo e minha psicóloga comentou que até meu jeito de vestir já estava mudando.
3) Me sinto completamente castrada por meus irmãos e minha mãe apesar de amá-los muito, apesar de sabê-los tentando me amar de uma maneira melhor. Nem sempre conseguimos.
4) Já fiquei dois anos sem conversar com um dos meus irmãos, não fui ao casamento dele e estou à quase ou mais de um ano sem conversar com minha irmã.
5) Não odeio meu pai, mas o acho uma das pessoas mais horríveis que já conheci intimamente.
6) Tenho medo de me tornar tão permissiva quanto minha mãe e arruino todos os meus relacionamentos sendo muito mandona ou implacável demais.
7) Tenho muitas gasturas e nojos e gosto de tudo desse mundo dividido: uma bucha pra copos, outra pra pratos. Uma pasta dental só minha, copos, talheres, tudo separado, antigamente, até camas, mas tenho cogitado dormir na mesma cama que o Fábio se nos casarmos.
8) Odeio isopor dentro da geladeira. Vasilhas de plástico hermeticamente fechadas me fazem sentir bem.
9) Detesto cozinhar. Como comida fria pra não ter que usar o fogão.
10) Tenho mais nojo das pessoas do que dos bichos.
11) Gosto mais dos meus bichos do que das pessoas.
12) Apesar de gostar mais dos bichos TAMBÉM gosto muito das pessoas, mas odeio o que o ser humano faz com os outros animais.
13) Bigodinhos de gato e patinhas fofinhas estão entre as coisas que gosto mais.
14) Cesar Millan me inspira. Quero ser uma líder de matilha com energia calma e assertiva.
15) Sou cruel porque sofro.
16) Me sinto terrivelmente sozinha porque as pessoas não gostam das mesmas coisas do que eu.
17) Se não fosse a Lidiane eu estaria morta. Ela é minha "alma gêmea de amiga". Ela me conhece.
18) Desde que voltei pra casa dos meus pais não consigo fazer sexo de maneira decente. Me sinto terrivelmente culpada e errada e uma parte de mim jamais se entrega inteiramente. Outra morre.
19) Sou uma pessíma namorada por causa da depressão.
20) Minha arma já foi o ataque verbal.
21) Já experimentei muitos romances desnecessários e auto-degradantes para me punir.
22) Já fui feminista ao extremo.
23) Até hoje odeio os homens e tenho que me esforçar diariamente para não ver o Fábio como um inimigo.
24) Amo muito e preciso desesperadamente do meu namorado e isso me incomoda muito.
25) Não consegui tirar carteira e sofri um gravíssimo trauma emocional no dia que foi aprovada no exame de legislação. Esse trauma não tinha necessariamente a ver com o processo de tirar carteira mas tornou tudo um pesadelo.
26) Tenho alguns esqueletos que não vou conseguir tirar do armário.
27) Acho algumas carnes gostosas mas me sinto mal por cada grama de carne que como, me sinto mal por não conseguir ficar sem carne e leite industrializados.
28) Queria comer produtos de origem animal somente se eles viessem de animais que viveram felizes e morreram dignamente.
29) Sou obcecada com tiros na cabeça desde a infância. Quando estou em uma crise muito aguda  a única coisa que me acalma é imaginar a pessão do cano frio de metal e a pulsão do gatilho.
30) Já acreditei em Deus de uma maneira ritualística.
31) Já fiz uma promessa à São Francisco e ela foi atendida e paga.
32) Gosto de olhar a noite e de escutar a chuva.
33) Tenho medo de subir em bancos, escadas e até de sentar em algumas cadeira.
34) Uma cadeira do refeitório já quebrou comigo por causa do meu peso.
35) Detesto preconceitos mas tenho muitos.
36) Não tenho vontade de emagrecer.
37) Quero cobrir metade do meu corpo com tatuagens.
38) Quero um travesseiro de melissas.
39) A Kiwi é a minha maior paixão. Mas ela é menos minha do que a Lucy.
40) Kiwi viveria bem sem mim. Ela é forte e independente. Por isso me sinto comovida quando a chamo e ela desce do telhado pra me atender. Já chorei por causa disso.
41) A Lucy tem esse nome por causa do King Diamond (Lucy, do Graveyard) e por causa de "Lucy in the sky with diamonds" Lucy e eu. Lucy e Mari Diamond. E por causa da Lucy do "Como se Fosse a Primeira Vez".
42)Escrevi uma versão para a minha Lucy da musiquinha que Henry(que é um médico veterinário) canta para a Lucy do filme: "Forgetfull Lucy". Porque a minha Lucy também teve amnésia.
43) Canto "soft Kitty/warm Kitty/lil'ball of fur/happy kitty/sleepy kitty/purr purr purr" para a minha Kiwi.
44) Canto para as duas uma versão da musiquinha que a mãe do Dumbo cantava para ele(Filinho Meu) para a Lucy e a Kiwi "Sem você/meu neném/sem você/sou ninguém/você é tudo pra mim/não há bebê tão lindo assim" mas mudo neném e bebê por Kiwiwi e Lulu. E quando a minha sobrinha Lídia era pequenininha cantava isso pra ela também.
45)A Letícia e a Lídia são minhas sobrinhas e meus maiores amores do mundo inteiro.
46)Ainda não consigo gostar de muitas das coisas do mundo adulto.
47)Tenho dificuldade para dormir cedo, mas adoro ter muitas horas de sono.
48)Adoro jogar Resident Evil.
49)Adoro os filmes do Hayao Miasaki, o Tão Longe, Tão Perto do Wim Wenders e muuuuuiots filmes de zumbi.
50)O livro que mais gostei de ler na vida foi o Fumaça e Espelhos do Neil Gaiman, mas falo que prefiro o Oscar Wilde porque só conheço uma única pessoa que já leu esse meu livro favorito. O Retrato de Dorian Gray é meu segundo livro favorito.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Fire and Ice by Robert Frost

Some say the world will end in fire,

Some say in ice.

From what I've tasted of desire

I hold with those who favor fire.

But if it had to perish twice,

I think I know enough of hate

To say that for destruction ice

Is also great

And would suffice.



Robert Frost

domingo, 13 de março de 2011

A senhora misteriosa e a falta dos meus avós.

Passo em frente a um casarão todos os dias. Ele tem o muro baixo-coberto por hera- e deixa entreaver nuances da casa com cortina em todas as suas janelas.
Sempre gostei de muros com hera. Elas significam o que diz o som do próprio nome: perseverança e paciência de vê-las crescendo, década após década, até um dia enfim terem aquele aspecto fofo e denso. O concreto totalmente escondido pelas raízes e musgos.
Nesse casarão tem um jardim. Na verdade, muitas plantas espalhadas de maneira caótica aqui e ali. E uma delas é um arbusto que fugiu para fora da casa e que dá flores pequititas.
Um dia vi a senhora da casa cuidando daquele arbusto. Ela estava com os olhos cheios d'água e arrancava com ódio algumas ramas quebradas. Eu a dei bom dia e ela me parou. Disse que as pessoas não respeitam mais as outras, que estragaram o seu arbusto. E eu a contei que o nosso jardim, que não possuía grade, havia sido completamente roubado da noite para o dia. Só encontramos os buracos onde ficavam as plantas.
Ela me contou muitas coisas naquele dia. E em um rompante sôfrego me disse que um de seus filhos havia morrido dois anos atrás. E me disse que não conseguia superar isso, que não conseguia mais rezar ou se sentir feliz.
Fiquei atônita pois não passava de uma desconhecida. O que eu poderia dizer? Ensaiei algumas palavras. Ela chorava, seu corpinho curvado balançava, e não pude deixar de notar que ela havia sido uma mulher muito bonita um dia. Suas roupas de jardinagem mostravam bom gosto e seu cabelo ainda que branco era muito volumoso, e caia em ondas sob seus ombros, os olhos muito azuis e profundos e os traços finos. Talvez seus pais tenham sido estrangeiros. 
Eu raramente a vejo. Ela é como um fantasma. Em quatro anos só a encontrei duas vezes, no dia desse incidente e uma vez depois dele. Meu coração fica triste quando passo lá de frente. Temo pensar que ela desistiu da jardinagem. A jardinagem é uma atividade que salva a alma das pessoas idosas. Principalmente das mulheres que eram matriarcas de uma família grande. Elas tinham muitas obrigações, cuidavam da casa, dos filhos, trabalhavam...e depois, fracas, por causa de tanto se esforçar, se vêem privadas de tudo. Cultivar e fazer crescer as plantas é uma obrigação leve que as faz sentirem vivas.
A empregada da casa tem feito isso. E eu imagino a senhora tão sozinha ao olhar alguns retratos ou sentar hipnotizada em frente à televisão.
Não consigo saber se eu fui apenas uma ouvinte ou se aquilo foi um pedido de socorro. Adoro histórias! Sentaria feliz com ela e tomaria uma xícara de chá a escutando contar coisas sobre seus pais ou sua vida de moçinha. Tive curiosidade. Quase pesquisei sobre ela. Quase a chamei quando passava pelo portão ao longo desses anos. Mas como disse anteriormente, nunca fomos nada senão desconhecidas...e tenho medo de incomodá-la.
Talvez seja carência minha que não tenho mais avó desde muito novinha. É tão sombrio admitir isso, mas sou egoísta e falha. A única avó que conheci não tinha mais lucidez ou era muito sizuda. Ainda assim, eu gostava de a observar trançando os longos cabelos ondulados que eram tão prateados e depois os amarrando em um coque. 
Outro dia recebi uma resposta. Uma resposta que dizia que eu fiz bem em não procurá-la. Quando passei de frente o muro de era(já não mais olhava por sobre ele) escutei um único latido profundo e meus olhos encontraram os olhos nublados de uma cadelinha muito muito velha. Pequena, peluda, cor de caramelo, e com dois laçinhos vermelhos por sobre as longas orelhas felpudas. O pêlo de sua carinha já completamente branco. Lembrei da minha Lucy e daquela mesma manhã. Estávamos em um banco de ardósia. Eu sentada, fazia carinho em sua barriguinha branca e observava o banco embaçar e desembaçar com a sua respiração. O foçinho pretinho e as patinhas esticadas.
Ah! Então a senhora nunca esteve sozinha!