segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Paradisíaco 2

Paradisíaco. Não é um lugar. Não é alguém. Porque morremos sozinhos, cercados de pessoas ou agonizando mudos com a boca entreaberta envoltos somente pelos lençóis suados. Também é assim o gozo. Agônico e solitário.
Enquanto te assistia dormir tão serenamente, a mão agarrando um dos meus seios, senti um prazer inteiramente novo. Inteiramente meu.
Tamanha era a intensidade dele que no seu desfalecer, meu amor, você me permitiu vislumbrar o meu próprio paraíso.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Terra

Você me disse que eu não sou da terra por não gostar de um fruto da terra. Mas eu sou toda musgo e barro e estava adormecida.
Porque há mulheres filhas de Eva e mulheres filhas de Lilith.
A noite é quem me rege e eu rasgaria com meus dentes o tecido que cobre o céu tamanha é a força do meu ventre. Não há diferenças entre as outras feras e eu. Nós corremos pelos campos a noites e não há nudez. Só corpo. Somos as fêmeas. As caçadoras, as ferozes.
As mulheres filhas de Eva são amaldiçoadas. Fracas. Miúdas. Tem nojo de suas partes. São nada mais que fantoches.
As mulheres filhas de Lilith são reconhecíveis pelo seu perfume e altivez. Somos perigosas. Nosso sorriso é por demais largo e enlouquecido como o de tudo que é verdadeiramente livre.
Nossa vulva é uma orquidêa perfumada com tons adocicados e primitivos, é quente, lasciva e macia e nosso toque é restrito ao nosso homem e as nossas crias. E o homem que nos tem é o mais forte, um homem sem medo, que seria capaz de dormir com um tigre. É o homem que tem uma mulher completa, não só uma costela.

Estátua babilônica em terracota atribuída a Lilith de 1.500-2000a.C