quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Work Of Artifice

Vi jardins japoneses. Um monge disse que quem consegue contemplar a beleza das coisas singelas tem por certo um coração bom. Existe um conceito que considera o imperfeito uma arte, no mesmo lugar em que os bonsais são feitos exclusivamente por homens. Tradições milenares. Me lembrou um poema que gosto muito:

A Work Of Artifice
                Marge Piercy

The bonsai tree
in the attractive pot
could have grown eighty feet tall
on the side of a mountain
till split by lightning.
But a gardener

carefully pruned it.

It is nine inches high.

Every day as he

whittles back the branches

the gardener croons,

It is your nature

to be small and cozy,

domestic and weak;

how lucky, little tree,

to have a pot to grow in.

With living creatures

one must begin very early

to dwarf their growth:

the bound feet,

the crippled brain,

the hair in curlers,

the hands you

love to touch.

Por mais que eu tente fugir dessa imagem, ela volta e volta à mim constantemente. Minha mãe me criou para servir. Uma gueixa da vida moderna. Tento me convecer que ela não estava errada, que as mulheres gostam desse papel de serventia, que gostam de se vender, que gostam de ser um corpo sem alma. Mas percebo que a maioria não sabe o que acontece. Não são mais perceptivas do que o gado em viés do abate... ou uma tartaruga bebê que andou em sentido oposto ao mar e se percebe longe demais para correr pela vida mais uma vez.
Queria tanto o turpor da alienação. Queria a morfina de não-pensar sobre o que sou. Não consigo me achar com um coração bom ainda que tenha contemplado a beleza em tantas coisas. Tenho um coração doente. Ainda que tenho vivido momentos mágicos.

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