sexta-feira, 2 de abril de 2010

Obscura.

Meu irmão diz que sou obscura. Ele diz que construo um muro e me escondo atrás dele. Um muro intransponível. Me pergunto se ele nunca cogitou ler esse blog. Tenho aqui contos de quando eu ainda estava em Belo Horizonte. Tentei, tentei e tentei... mas ainda continuo a menina morta-viva com esqueletos no armário. Esquivo da meu convívio familiar e dos meus problemas com a construção de metáforas. Tento achar algo bonito no meio dessa dor. Tento significar. Porque se há uma coisa com a qual convivo desde sempre é a dor. Minhas dores. Meu cansaço. Esse, grande a ponto de me fazer identificar com um suicida.
Quando digo pra mim mesma que estou feliz, o sofrimento chega com as suas navalhadas impiedosas, corta fundo a minha carne e me destrói. Sofro de uma condição nada rara. Luto diariamente com minha depressão... tampando um buraco aqui e outro ali pra parecer alegre no final. Mas nunca deixo de ser uma boneca recheada com falsas felicidades e dona de um sorriso paralítico.
Não sei o que é lar. Nunca tive um. Tenho tanta inveja dos outros que chamam essa maldita casa de lar deles, ainda que eles tenham suas próprias casas e famílias. Eles puderam ficarf aqui até depois dos trinta. E eu desde os 19 sou expelida para fora desse útero. Aborto humano. Minha mãe me mantem aqui como um feto natimorto. Lembro da minha voz gritando, a voz de uma menina de 13 anos, gritando que nem mesmo as portas eu posso bater, afinal, não foi com meu dinheiro que elas foram compradas. Achei que melhoraria algo quando eu pudesse ajudar financeiramente. Me enganei. Continuo sendo a intrusa. Talvez os narizes sagazes dos meus irmãos farejem que esse lugar não me pertence.
Foi dentre essas portas que vivi meus maiores horrores...horrores que não saberia descrever. Essas portas que nunca foram minhas, e portas que odeio tanto. Portas que personificam a minha angústia de viver uma vida dos outros. A Mariana morta. A irmã caçula. Essas portas não são minhas nem quando as bato com ódio. São as portas da casa da minha mãe. Portas que nunca respeitam o meu silêncio ou o meu grito. Portas que não conseguem me fazer sentir protejida, sentir em casa, descansar o descanso merecido, dormir o sono dos justos, ter uma vida só minha. Viver.
Meu lar sempre foi outro. Meus gatos, e essa tela cheia de palavras. Moro nas palavras. Quem as lê, lê também a minha alma. Minha alma está presa em meus dedos. Não consigo falar, só escrever.
Me extendo por essas linhas extras por medo de ter que voltar a ser a Mariana-morta. Aqui e vivo, aqui eu posso ser sincera. Aqui me compreendem.
Ainda sou a assassina de mim mesma. Ao passo que não abandono esse lugar. São tantas desculpas: meus gatos, a falta de dinheiro, a carência da minha mãe, afinal, é comigo que ela se senta a mesa para almoçar. As roupas sempre lavadas, o cheiro de limpeza da roupa de cama, o almoço servido. Mas não é isso que me mantem aqui. Não é. O que me mantem aqui é o meu ódio, não o meu amor. Me odeio, e gosto de sofrer. Gosto de ser a vítima. Hipócrita vítima. Talvez não goste de viver. Talvez nunca tenha aprendido a fazê-lo. Talvez nunca tenha tido espaço físico para isso. Não um espaço meu.
Mas estou decidida a partir.
Como falar de amor depois de tudo isso. Minhas costas dôem, meus olhos estão inchados e minha cabeça também está doendo. Mas é preciso um parêntese. É preciso dizer que quando eu partir um dia...se partir sozinha, amei você, Fábio, muito. Ainda de te amo muito e é uma pena que não saiba te amar da maneira que você merece. É uma pena não te poupar dessa minha ignorância emocional. Você não merece alguém com a alma estilhaçada.

3 comentários:

  1. Mari, é incrível te ler. Obrigada por proporcionar aos leitores do seu blog tantos sentimentos. As vezes me sinto intrusa na minha casa também, e me pergunto se todos se sentem assim também? O ser humano é um idiota que gosta de mostrar que está sempre feliz. Mas eu também sou dessa espécie e seu que não é bem assim, as horas de alegrias são poucas, e quem já experimentou a felicidade não consegue aceitar a tristeza com humildade não é mesmo? Um beijo flor, estou sempre aqui te lendo.

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  2. Mari, há momentos em que tudo pode se mover contra você, e a impressão que dá é que tudo está perdido! mas a bíblia fala que "ainda que meu pai e a minha mãe me abandonarem o Senhor me acolherá" (salmos 27.10)Mas a verdade é que você não está só.Você tem boa companhia sempre! Há uma pessoa disposta a te ouvir, te ajudar, te guiar pelo caminho correto e seguro.Ele é seu melhor amigo: O ESPIRITO SANTO. Clame por Ele sempre que se sentir mal...

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  3. Ah, outra coisa...
    Vejo, com os olhos da fé, Deus agindo de uma forma tremenda em sua vida...
    Você virou alvo de minhas orações, menina.
    Te amo!

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