Ao ler o livro O gato por dentro de William Burroughs, lembro-me de ter ficado chocada com uma cena: um cão alegre e estúpido, abanava o rabo enquanto mastigava o rosto do cadáver do dono.
Talvez não tenha me identificado tanto assim com o autor, não nessa parte de ódio ao cão. Prefiro gatos, isso é sabido, mas também gosto de cães. Na minha lista de favoritos estão em primeiro lugar os gatos, depois os cães, em terceiro lugar os porquinhos da índia e em quarto lugar os cavalos, coelinhos e demais animaizinhos. Os passarinhos ficam de fora. Assim como os peixes e os demais que foram feitos pra serem livres e só gostam de gente se forçarmos muito a amizade. Peixe-beta não conta porque ele gosta de ficar sozinho e um aquário médio é mais do que suficiente em termos de espaço.
Os porquinhos da índia merecem o terceiro posto porque fazem um barulhinho fofo ao andar, e é divertido assistí-los triturando com seus dentinhos qualquer folha cumprida que a gente os dê.
Acho que nessa minha vida sou mais gato do que cão. Apesar da minha permissividade e lealdade exarcebada, sou reservada e sistemática com a maioria das coisas. Não gosto de carinho o tempo todo, adoro dormir e me esticar preguiçosamente durante o dia. Gosto mais de mim do que das pessoas, gosto mais dos meus gatos do que das pessoas. O gato é tão elegante, é tão livre... mas as vezes eu me percebo mendigando uns minutos de atenção ou um carinho... eles me toleram, mas não se doam o tempo todo. Quando eles querem, eles fazem. Quando não querem, ou te toleram ou te ferem. Não há como se chatear, é a natureza deles. O gato te faz olhar dentro de si. Perceber suas fraquezas, detestar seu próprio cheiro e admitir sua carência. O gato é o amor coberto de racionalidade. O amor franco demais, o amor tênue. O amor da conquista constante. Por isso são tão temidos. Mas não são traiçoeiros, o gato é completamente previsível em sua inconstância e é exatamente esse o seu charme. O gato é dele mesmo.
Sabe, não vai me fazer mal ter um cão. O cão atrapalhado, afobado. Que se mija de excitação com o simples brandir de uma corrente. O cão é um animal de atitudes exageradas. O cão grita que te ama o tempo todo. Ele não deixa subtentido em um leve roçar ou se esgueirando furtivamente para se aconchegar entre suas pernas. O cão diz: "Olha pra mim! Olha pra mim!" e salta, e uiva, e abana freneticamente seu rabinho e lambe as mãos do dono. O gato age como se não estivesse sendo observado, e quando não, é ele quem nos observa: no chuveiro, durante o sono ou ao assistir televisão. Você sente um pequeno calafrio e quando olha para o lado, encontra pousados sobre você aqueles pares de olhos bonitos. Os olhos mais bonitos que a gente já viu.
Nós humanos somos muito chatos. Por mais que se evite dizer, estamos infelizes por mais tempo do que ousamos demonstrar. Acho que o amor desmedido e estúpido do cão diminuirá as minhas horas de tristeza. Pelo menos ao encontrar o meu amigo leal, amigo canino, poderei me iludir com uma grandiosidade gratuita, poderei ser o objeto de desejo e atenção integral, sem ter ao menos, que me cansar com a conquista. Nunca me faltará afeto. Será eu afinal quem vai dizer "chega, já entendi". O amor perfeitamente idealizado. Minhas manhãs e noites serão mais felizes com a Lucy por perto.
Olá Mari! Hoje é sexta-feira, uma correria. Não repare em minha visita relâmpago, mas venho lhe convidar para ler o novo capítulo de “O Diário de Bronson (O Chamado)” e deixar o seu comentário.
ResponderExcluirRetornarei com melhores modos e mais tempo. Tenha uma ótima semana. Abraço do Jefhcardoso!