sábado, 1 de setembro de 2012

Esquisita

Imagine um poço, imagine você no fundo desse poço gritando por ajuda, imagine todos os que você ama dizendo: "sinto muito, mas não há nada que eu possa fazer"...até que alguém estende a mão, só que essa mão ainda está longe, ainda há um muro viscoso e tortuosamente longo pra se escalar, então você quebra todas as suas unhas, sangra e consegue chegar até a mão, e dali pra frente você consegue sair do escuro poço.
Foi o que aconteceu comigo. Ao final da escalada eu me senti emocionalmente exausta...mas sabia que tinha conseguido. E quando cheguei naquela mão encontrei outras, e outras e outras e aos poucos fui me livrando dos panos molhados e em decomposição, do cheiro enjoativo da água fria, dos sujos grudados em meu rosto, braços e pés. Minha pele foi desenrrugando e eu começei a deixar de sentir frio e fome.
No entanto, uma das pessoas que me negou ajuda, talvez por conforto, talvez por medo, talvez por seus motivos que não havia dito, achou que já era hora que eu a tirasse do seu próprio poço, e dividisse com ela tudo o que eu havia conseguido... Ainda que tenha clamado, literalmente, em lágrimas, que ela me ajudasse assim como outras pessoas que passaram por mim quando eu estava lá no fundo, ainda que ela soubesse que eu ainda estava sendo ajudada e que não estava em condições, assim como ela não estava quando era eu quem clamava por socorro.
Me senti pisoteada. Mas sabia que como eu, aquela mulher só queria o mesmo que eu quando ainda estava na água: se libertar. E então, eu me calei, a minha boca se calou, porque meu corpo dizia que estava tudo errado, eu fiquei doente e mal-humorada. Como refúgio, tinha um cúmplice dos meus sentimentos, e esse cúmplice sabia que aquilo, assim como eu mesma sabia, era algo de momento, algo que não valia a pena... que era melhor deixar passar...e depois conversar sobre porque amava muito aquela pessoa, e porque não dizemos a verdade o tempo todo. E nos surpreenderíamos ao ver, desprovido de filtros, o que acham de nós os nossos inimigos, os nossos amantes, as nossas crias... mas esse filtro é necessário. Quando ele não existe as pessoas se tornam crúies por demais e são fadadas à solidão. Simplesmente porque se aproximamos de alguém demais, conhecemos todos os seus defeitos...os mais íntimos, mas escolhemos permanecer junto delas... as vezes por suas qualidade e as vezes exatamente por seus defeitos.
Mas essa pessoa, que se dizia tão próxima, que se dizia tão moral, resolveu observar meu cúmplice e eu e os nossos abraços e resolveu que iria ler as nossas cartas quando as viu repousadas sobre a mesa. E assim ela descobriu o que eu realmente pensava sobre aquele momento e me transformou em um monstro em sua fantasiosa distorção da realidade.
Se ela cruzou essa linha, jamais deveria ter confiado em mim. Porque a vida é feita de "mentiras maravilhosas" e não pode ser difererente disso... é melhor que as pessoas se abrassem no escuro e mintam dizendo "eu te amo!" "vai ficar tudo bem!" do que vociferem que é inútil lutar contra o frio, que todos vamos morrer, que aquilo é uma babaquice.
Acho que é se humanizar. Saber que os nossos defeitos existem e causam dores nos outros. Saber que somos cruéis as vezes mas que pesamos o que realmente importa... e que escolhemos.
Há um motivo para se esconder as coisas, há um motivo para decidir o que falamos ou não... mas se em algum momento você acha que o que é falado é inferior ao que as pessoas omitem em te dizer, você certamente não deve procurar saber...você já está questionando o julgamento daquela pessoa, o que ela quer que você saiba o que quer que não. Você está junto da pessoa errada pra você ou é você que é paranóico e vê erros fatais em todas as pessoas.
Se você desconfia de mim, eu não sirvo pra você, se eu desconfio de você, você não serve pra mim. Escutei essa frase em voz alta hoje, e as peças do quebra cabeça se encaixaram... eu estava errada afinal, mas não tanto! Ela devia ter partido há muito tempo, antes de abrir as cartas, antes do primeiro "sinal" de desconfiança... porque em momento nenhum eu deixei de amá-la ou de ser espontânea em relação ao que sentia por ela, ainda que eu estivesse muito magoada e irritada. Ela foi quem cruzou a linha, ela foi moralmente errada, ela já havia deixado de me amar há muito tempo, talvez, antes dessas incertezas culminarem nesse último ato, extremo, patético e dilacerante.
Não irei me responsabilizar pelo que os olhos dela leram porque era para ser segredo.Porque eu havia reservado coisas melhores para ela, porque eu havia dito e feito o melhor que eu conseguia naquele momento. E tenho certeza, assim como sei que eu ainda a amava quando ela me confidenciou o que fez, que ela iria abandonar à todos que a amam e são amados se fizesse o mesmo com eles, uma vez que ela não pode tolerar as minhas linhas que eram sobre aquele momento, não sobre os oito anos.
E, sinceramente, espero que ela se arrependa amargamente.



6 comentários:

  1. Sensível e com um toque de realidade! Bonita como sempre a sua escrita.
    Adri

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    1. Obrigada Dri. Fico muito feliz em saber que você lê o meu papel. Você é muito amada e te sinto muito próxima de mim, sempre. Tenho muito que te agradecer, mais até do que consigo através das minhas palavras e gestos...

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  2. é bem possível que se arrependa...amo suas metáforas.

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    1. Oi meu amor. Eu espero isso. Não acredito em justiça divina... só no seu cajado de Deus com cordas.(risos) Obrigada por me ler.

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    1. Não consegui achar título melhor que esse Sabrina. Resume tanto em uma só palavra...risos

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