domingo, 4 de outubro de 2009

Fome de dentro

Fome

Pudessem minhas mãos falar às tuas
e dizer-lhes: sim, quero-te muito.
Pudesse eu inundar-te de ternura
e no silêncio ter-te, ampla e desnuda.
Que eu não faria versos sobre mim,
nem falaria em rosas, alma, lua.

Pudesse o meu olhar adormecer-te,
colher-te, fresca e firme, a forma viva.
Que coisas não faria nesta vida?Que coisas não seria?

João Rui de Souza(1928)


Essa ausência engolida de minutos em minutos, é a temida ausência presente... do que se faz mais presente em mim do que qualquer outra coisa.
Não é mais espera e sim o querer, de qualquer outra necessidade primeira.
Não me culpe meu amado, pois não se pode pedir que a fome espere, que a doença passe ou que o tempo páre.
Não se desfaz uma tempestade, nem o apetite de um turbilhão de insetos vorazes- plantação à vista.
O canteiro onde brotam as minhas emoções é todo flor. O tempo todo.
Nasci uma pessoa intensa seja para a felicidade ou seja para a dor.
Se sinto a fome, é de um recém-nascido, se sinto a dor, é a dor do parto.
Então é de minha natureza querer-te tanto, uma vez que és tão primeiro.
Não me negue a minha própria necessidade, a aceite como escutas a palavra amor de meus lábios.
Como o que construímos juntos para tal palavra.
Quando digo saudade, é na verdade, pura fome.

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