sábado, 5 de setembro de 2009

Areia.

Estou desenvolvendo um câncer. As vezes penso que desde que nasci. As vezes o imagino sendo tomado dráguea à dráguea, mês após mês...até o ponto em que meu útero se encherá de pus e será arrancado de mim e jogado no lixo hospitalar junto das outras carnes podres de outras pessoas. Cânceres e amputações indigentes.
As vezes imagino que será meu pulmão. Preto como uma ameixa ou um membro com gangrena. As vezes me vejo deitada na areia da praia, a radiação do sol queimando a minha pele e fazendo nascer pintinhas que são fundas fundas e mais parecem a raiz de um dente do que uma pequena mancha quando são arrancadas a laser.
Estou desenvolvendo esse câncer castrada, calada... porque estou e não estou sozinha. Na minha fantasia as pessoas dividem essa responsabilidade comigo e percebem que os vinte segundos que economizaram para si ao invés de me ouvir/agradar/atender- não necessariamente nessa ordem, ajudam esse cancêr a fazer mais uma alegre metástase alguns anos a frente.
Quando sinto esse câncer crescendo me vejo na minha brincadeira favorita.Cochilando, semi-consciente, de bruços na quebra da onda. A cabeça levemente virada deitada sobre o braço dobrado para que eu possa respirar o mínimo de ar...cada vez que a onda vem, a areia devora um pouco mais o meu corpo. A água salgada brinca de empurrar meu cabelo para dentro e depois para fora. Afundando. E lamento por não conseguir morrer de verdade, mesmo já estando morta.

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