Hoje eu tomei uma xícara a menos de café do que deveria e agora o pó perfumado decanta na água fria da garrafa térmica que inultimente o sustentou morno o dia quase todo... eu também tenho meus dias de garrafa térmica.
Mas as perspectivas mudam quando as coisas são feitas por amor. O feto que ainda não cresceu em minha barriga e o meu futuro marido, meu já companheiro, podem até não estar presentes nessa batalha íntima de me tornar adulta em um curto período de tempo, podem não estar aqui para massagear as minhas costas ou verem minhas unhas sujas de bombril e os dedos enrugados como peixinhos branquelos...mas saberão do meu amor nas panelas limpinhas e no perfume de limpeza do chão...
Respirei fundo e enfrentei medos que não tinha sentido necessidade de enfrentar só por mim... medo de panela de pressão explodir, medo de não conseguir pagar as contas, medo de ficar velha demais para aprender tanta coisa.
Meu feijão não cozinhou direito e ficou com gosto de alumínio da panela nova, mas por fim, esteva satisfatório, e agora está tudo limpo e calmo, meu dedo cortado, mas um incenso deixa um cheiro bom onde estou e o rio do lado de fora corre alheio a tudo que se passa dentro de mim.
Ele corre literalmente. O som da água tem me acalentado a noite. É difícil saber se está chovendo ou não por causa do som, mas um dia serei capaz de distinguir o som do rio e o som da chuva.
Enquanto vou crescendo a minha Lucy vai esperando por mim, ingênua como o rio, e o meu homem vai me cuidando mesmo quando a tarefa parece difícil, difícil como acertar o tempero... as vezes sai salgado demais, as vezes de menos...