Não é saudável, B. Já não lembrava mais de você, digo, pensava em você eventualmente, mas as minúcias me fugiam. E ontem quando você esteva aqui, você elogiou a minha nova decoração do quarto. Você trouxe o seu minúsculo cãozinho preto(Dorothy?). E você me fez lembrar de como sempre foi o seu rosto.
Disse o que eu esperava: que nunca havia deixado de me amar, e cheirou a minha pele com a fúria de sempre e me buscou com a fúria de sempre e nós fizemos amor. Sentia saudade disso também.
Eu pude te contar várias coisas, nós fizemos coisinhas corriqueira juntas e por fim estávamos felizes.
Mas isso tudo aconteceu há muitos anos atrás, não é mesmo B.? E eu não espero que você haja de maneira diferente do que tem sido por todo esse tempo. Somos desconhecidas. Temos nossas vidas. E eu ouso dizer que ambas encontramos alegrias e realização com nossas outras pessoas. Especialmente você que não partiu.
Por isso digo que não é saudável. Não é somente isso. É mais ainda cruel ter sonhado com você assim. Agora que uso o mesmo corte de cabelo que você usava. E ouvir nesse sonho que você me ama é assustador. Quer dizer que na verdade essas palavras são minhas. São do meu incosciente trágico já não domado pela razão. Ainda amo você, depois de todos esses anos. E não farei nada a respeito disso.