terça-feira, 10 de agosto de 2010

Dois tipos de guarda chuva de dia/noite sem chuva.

Ela era uma menina muito pequena que tinha muita dificuldade pra dormir. Imaginava e imaginava. Monstros que a devorariam ali, dentro do escuro do quarto, se escutassem a sua respiração. Então, encolhia debaixo da coberta e respirava o mínimo possível, imaginando-lhes as conversas, sempre como se tivessem em um cocktail. Ela era uma menina que imaginava muito.
Com a luz acesa era bem mais fácil. A irmã um pouco mais velha, que hoje já morreu, a fazia imaginar um João Pestana. Só que ao invés de algibeira com areia, este trazia um guarda-chuva e um pozinho mágico pra se jogar no olho e fazê-lo fechar de sono. O olho coçava.
O guarda-chuva, independente do clima do dia, estava sempre aberto, e já de longe, antes que ele caminhasse até a altura dos olhos(é preciso dizer que ele era bem minúsculo e o guarda chuva, nessas condições parecia bem grandão), logo se via se era um pesadelo ou um sonho bom. Se fosse um pesadelo ele era escuro igual ao guarda-chuva do papai, se era um sonho bom, ele era ainda mais colorido do que a sombrinha da mamãe. Era colorido das sete cores do arco íris, em gomos recheados delas, assim, como se fosse um guarda-chuva de praia. A menina não se importava com os dias de pesadelos, eles eram, em todo caso, melhores do que os monstros na festinha do escuro.
Um dia a avó, em delírio, velhinha e fraca, imaginava como a menina, coisas que na verdade não estavam no quarto. Imaginava e via, meninos que lhes roubavam os biscoitos embalde ela ralhasse: "Deixe eles aí! São dos meus netinhos, suas pestes!" outras, imagivana uma moça em seu quarto com um guarda chuva aberto. 
No mundo da avó, não se podia deixar a hóstia enconstar no céu da boca, ou se sentiria o gosto de sangue do cordeiro. No mundo da avó, guarda chuva aberto dentro de casa em dia de sol era mal agouro, trazia tempestades e tormentas, varrendo as hortas e as coisas da gente pobre que construia casa nos barrancos.
E a velhinha berrava para a moça fechar o guarda chuva. Implorava para que ela olhasse o sol lá fora. Um dia lindo e claro. Era um desespero muito próximo da mágoa, muito próximo da dor. 
A mãe da menina,tão sábia, foi ao socorro da senhora em prantos, e ordenou à moça que fechasse o guarda chuva ou então fosse embora. A avó então, enxugou os olhos e sorriu. 

3 comentários:

  1. Nos seus Contos eu sempre me encontro de uma forma ou de outra neste lembrei me entre outras coisas de minha Mãe... Um abraço menina

    ResponderExcluir
  2. Esqueci de comentar linda ilustração é de sua autoria?!

    ResponderExcluir
  3. Obrigada Veloso!
    Esse desenho é meu sim...

    ResponderExcluir