segunda-feira, 12 de julho de 2010

Meninas.

Minhas meninas estão crescendo. Mais da minha irmã do que minhas, eu sei, ainda assim minhas meninas também. Ainda ontem carregava uma delas no colo(eu era nada mais do que uma criança com modos de adulto... ah se pudesse, teria sofrido tão menos e deixado tudo pra mais tarde), cantando sabiá na gaiola, e olhando com um pouquinho de gastura(por causa da fragilidade) aquelas mãozinhas e pezinhos tão pequenos.
Ainda ontem(até os quatro anos) a mais velha respondia sem pestanejar que eu era a tia favorita se a perguntassem sobre suas preferências. Ainda ontem, essa morria de ciúmes do bebê mais lindo do mundo, sua irmãzinha, apelidada e com motivo, de bebê da Johnsons. 
É estranho vê-las se espichando assim... as preocupações com os garotos e com a opinião das outras meninas começando a aparecer, dúvidas quanto às roupas, novos cortes de cabelo, e a mais nova, apesar de ainda ter uma doçura maior de menina, menina mesmo, brinca cada dia menos de boneca.
Era o Natal do ano passado e saímos pra comprar sapatos... a mais velha exclamou "Tia, você me deu meu primeiro sapato de salto!"...ela me disse isso sem ao menos notar que o salto era de menos de cinco centímetros igual à alguns de seus sapatos de plataforma anabela. É que na verdade, ela me dizia que agora é uma moçinha: unhas pintadas, sutiãs e fotos de celular. 
Elas eram a espevitadíssima Branca de Neve e a sensível e romântica Cinderela. Ainda vejo aquele par de sorrisos, uma menininha segurando um porquinho da índia nas mãos e outra me pedindo para ler estorinhas na hora de dormir, as letrinhas ainda confusas demais para serem lidas por alguém tão novinho. 
Elas assistiam Dumbo ou os filmes da Barbie quinze vezes seguidas sem se enjoar; sabiam até as falas. Tinham muitas manias. Já deixei as duas se machucarem feio caindo( lá pelos seus 5 ou 6 anos de cada uma delas) mas não fui destituida do cargo de tia especial. Minha irmã deve saber que amo essas duas(três na verdade, pois amo minha irmã mais do que os irmãos geralmente se amam) mais do que amo a mim mesma ou a minha própria vida, apesar de nunca declarar isso à ninguém.
Por vezes esqueço que elas cresceram, mas elas o deixam, afinal sempre fui a tia-menina, e muitas vezes com elas eu me esquecia que havia crescido... e brincava de ponei ou fofolete como se tivesse menos de 10 anos de idade. Há uma mágica da infãncia que me comove. Uma mágica em que as angústias de adulto passam longe longe. Sofrimento de criança é coisa diferente. A imaginação sobrepõe-se à realidade chata, sem nem precisar de uma varinha de condão.
Ainda ontem assistíamos "A Bela Adormecida" juntas, as lágrimas sendo contidas e eu disse "pode chorar" e sendo respondida por dois olhinhos marejados e sensatos que sabia que era mentira...e eu respondia que mesmo sabendo que era "mentira" não tinha problema se emocionar.
Ainda ontem construíamos uma festa de Natal dos pôneis, com direito a piscina e banquete feitos com algumas folhas e casinhas de caixas vazias.
Ainda ontem eu me surpreendia por ser perguntada sobre o Bug do Milênio ou sobre o infinito. E calçava as sapatilhas em uma doce bailarina rosa pronta para pular carnaval(essa ainda vai ser minha menininha por mais um ano ou dois, uma menina mais moça talvez, mas ainda assim menina). Ainda ontem elas me vestiam literalmente de palhaço e se deliciavam de rir das minhas travessuras. Ainda ontem uma delas chorava de saudade da mãe fazendo de conta que era por causa do puxão que dei ao prender uma buchinha de cabelo.
Hoje saí para comprá-las um presente...e pela primeira vez ele não foi embrulhado no papel de bichinhos ou de balões.  

Um comentário:

  1. Estou chorando no meio do meu trabalho. Ainda bem que estamos meio de férias e não tem quase ninguém aqui. Mas é assim: somos todas meninas ainda e crescemos juntas, cada uma em seu tempo, guardando sempre a doçura do amor. Minha querida, sabe que sempre te amarei como filha, irmã, amiga... Não vai acreditar, mas saímos hoje para comprar o presente para você e quando vimos era igual às coisas que compramos para nós. De repente estamos em um mesmo tempo, não sei se fui eu que esqueci de envelhecer ou se foram vocês que me pegaram muito rápido.
    Até breve!

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