Encolhida, e, com a urgência de proteger as costas, me
encaixo em posição fetal em cada pedaço do corpo dele que está todo escondido
pelo cobertor. A respiração, o subir e descer calmo e ritmado, o braço
repousado sobre mim, é o maior acalanto que o mundo poderia ser. Ele me
conhece. Ficamos assim, encaixados, lado a lado, como duas mariposas em um
casulo de lã, mas não esperamos uma mutação, apenas congelamos o tempo.
E eu suspiro e digo que quando ela morreu, morreu parte de
mim. “Ela não era um outro, ela era parte de mim, como se fosse um braço, ou
uma perna”(estamos falando de um gato, ou melhor, uma gata, que por 14 anos, antes de vislumbrar conhecê-lo, já
era minha, já era um dos meus amores). “ E provavelmente algo seu realmente
morreu com ela, mas o ciclo se completou e vocês duas fizeram o que tinham que
fazer juntas”, ele diz, gentileza em sua voz, que tem um tom amendoado.
Ao acordar pensei como é lícito ao amor esses
lugares-comuns, “morrer parte de si”, “destituir algo perdido, completar”, esse
ciclo constante de re-significações, de coisas tão delicadas que se quebram com
um sopro, com um veneno, com o tempo implacável ou com um silêncio. Suspiro e
penso que o coração precisa ser volúvel caso contrário se empedra. Aos poucos vou aprendendo a ser esse novo eu,
sem ela, sem minha mãe, com uma vista diferente da janela do quarto, com novos
amigos, com novas feridas em cicatrização mas com um corte de cabelo novo.
Um bom tempo sem caminhar por aqui... Tudo de bom em tudo e sempre!
ResponderExcluirOi querido Veloso,
ResponderExcluirO papel estava parado, mas agora eu volto!
Obrigada demais.
Todo meu carinho,
Mari