As casualidades do dia me fizeram atrasar. Cansaço, trabalhos e estudos acadêmicos e horários de ônibus. Quando cheguei na faculdade não esperava vê-la. Não naquele dia. Tinha uma prova e faltavam dez minutos para a aula.
Ela veio correndo ao meu encontro e saltou nos meus braços como uma criança bem novinha se lançaria aos braços de um pai que chega de viagem. Eu a agarrei e ela tombou a cabeça. O sorriso de caninos ligeiramente incisivos e o nariz arrebitadinho mais lindo e suave do mundo inteiro. Suas orelinhas élficas estavam avermelhadas e ela estava muito bêbada. Não encontrava seus óculos, nem seu celular. Ajudei-a a encontrá-los estendidos sobre a grama fofa do campus e os guardei em minha bolsa.
A voz enebriada e doce me contava que havia me esperado desde três horas da tarde, que me amava, que bebeu a tarde toda com nossos amigos e me confessou que estava com vergonha de estar bêbada. Ela em muitos aspectos parecia um pequeno anjinho etéreo e perfeito.
Tive que abandoná-la no sofá do diretório acadêmico. Cheguei dez minutos atrasada para a prova. Estava desesperada por deixá-la sozinha, mas aquela prova valia 30% dos pontos daquela matéria.
Nunca deixei que ela soubesse, mas quando saí desconsolada da sala e a enconrei, ela dormia com a boquinha desenhada ligeiramente aberta. Roncava um pouquinho. Uma das pernas estava esticada sobre o sofá de dois lugares e a outra desfalecida fora dele. Sua saia longa de brim(uma das minhas favoritas) havia caído de maneira cruel deixando as pessoas entreaverem uma calcinha de algodão e as bordinhas de um absorvente.
Talvez tudo o que vivemos até aquele dia não me permitisse perceber o quanto ela precisava de mim. Eu nunca tive certeza de estar tão apaixonada e mais tarde de amar tanto quanto a amava. Eu também precisava dela. Mas aquele dia ela precisava sôfregamente de mim e saber que eu não sabia o que fazer ou como fazer fez meus órgãos entrarem em pura agonia e escorrerem dos meus olhos em forma de lágrimas.
Lavei meu rosto e a acordei tenramente... me desculpei muito por a ter deixado sozinha e a levei até a casa dos avós. A rua era perigosa demais, mesmo para nós duas. Eu a deixei em casa e voltei sozinha para a república.
Nesse dia soube que nunca estaria preparada para aquele tipo de amor, tão profundo, tão desesperado.
Se eu fechar meus olhos agora ainda sou capaz de lembrar como era tê-la em meus braços. A pequena pressão que seus ossinhos faziam em minha pele, e seus braços reuposados sobre os meus.
Nunca soube cuidar de uma coisa tão delicada quanto as pequenas borboletinhas lilás e suas asinhas de papel. E até hoje isso parte o meu coração.
Falando da escrita, eu tenho uma busca constante. Eu busco o meu texto ideal. Achei muito interessante esta narrativa, a maneira como tratou este momento de romance, um romance moderno. Casualidades. é um texto muito interessante e bem escrito. Parabéns, Mari!
ResponderExcluirAbraço do blogueiro Jefhcardoso
Que alegria ler esse comentário seu! Muito obrigada Jefhcardoso!!!
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