Vi jardins japoneses. Um monge disse que quem consegue contemplar a beleza das coisas singelas tem por certo um coração bom. Existe um conceito que considera o imperfeito uma arte, no mesmo lugar em que os bonsais são feitos exclusivamente por homens. Tradições milenares. Me lembrou um poema que gosto muito:
A Work Of Artifice
Marge Piercy
The bonsai tree
in the attractive pot
could have grown eighty feet tall
on the side of a mountain
till split by lightning.
But a gardener
carefully pruned it.
It is nine inches high.
Every day as he
whittles back the branches
the gardener croons,
It is your nature
to be small and cozy,
domestic and weak;
how lucky, little tree,
to have a pot to grow in.
With living creatures
one must begin very early
to dwarf their growth:
the bound feet,
the crippled brain,
the hair in curlers,
the hands you
love to touch.
Por mais que eu tente fugir dessa imagem, ela volta e volta à mim constantemente. Minha mãe me criou para servir. Uma gueixa da vida moderna. Tento me convecer que ela não estava errada, que as mulheres gostam desse papel de serventia, que gostam de se vender, que gostam de ser um corpo sem alma. Mas percebo que a maioria não sabe o que acontece. Não são mais perceptivas do que o gado em viés do abate... ou uma tartaruga bebê que andou em sentido oposto ao mar e se percebe longe demais para correr pela vida mais uma vez.
Queria tanto o turpor da alienação. Queria a morfina de não-pensar sobre o que sou. Não consigo me achar com um coração bom ainda que tenha contemplado a beleza em tantas coisas. Tenho um coração doente. Ainda que tenho vivido momentos mágicos.
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