quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Rodeios.

Uma barata atrapalhou o meu sono. Ela entrou sorrateiramente em meu quarto e subiu no meu pé. Essa é a segunda vez que me acontece isso essa semana. Minhas gatas as perseguem e sempre as jogam em minha direção. Odeio baratas.

Conversei sobre (indiretamente) sobre gostar do meu corpo com uma ex colega de faculdade. Ela, para minha surpresa, reaparecu virtualmente depois de muitos anos para dizer que me admirava por eu não ter medo de ser quem eu sou. E digamos que sou praticamente a Beth Ditto em uma versão um pouco menos agressiva.
Peço desculpas ao leitor, esse meu amigo imaginário das minhas horas secretas e entregues à ele, por essa postagem tão alienígena. Não costumo falar "diretamente" sobre mim.
Mas sinto raiva. Primeiramente da barata, e hoje em especial das pessoas que praticam bullying com os gordos, dos gordos que não se defendem e também dos gordos que não fazem nada para mudar o peso e odeiam o próprio corpo.

Somos feios por natureza. Você que me conhece, sabe que não gosto do ser humano. Os gatos, cães e pandas bebês são muito mais bonitos do que nós... em todos os sentidos.
As pessoas acham natural vender seus corpos e a imagem de um corpo "perfeito". Acham natural vomitar por aí que gordo é feio e magro é bonito. Acham natural ter "pena" de alguém por ser gordo. "Coitadinha! Saiu muito gorda nessa foto!".
As pessoas, acham natural comer carne de animais que vivem em meio a sujeira, que têm a carne podre de cancêr, que são torturados desde o nascimento e rasgados vivos na maioria das vezes(na frente uns dos outros). Acham natural se esquecer que animais sentem dor, prazer e medo quando lhes convém esquecer.
Acham natural mendigar, reproduzir a cada cio, criar filhos subnutridos e negligenciados. Por vezes chamam isso de amor.
Somente o ser-humano, o gato doméstico, a orca e outros poucos animais não-citados gostam de matar como forma de entretenimento. O ser-humano, que é o único tido como dotado de inteligência e poder de escolha, também gosta de estrupar e humilhar.
Li no blog da Aninha um post sobre um tal "Rodeio de Gordas"(www.mundogege.blogspot.com). Intolerância e engasgo. É difícil me fazer chegar nesse ponto, e é bom, porque geralmente me deprime lembrar o quanto o homem é sujo. Fico me sentindo no metrô como o Homem Elefante do Lynch gritando "Não sou um animal. Sou um ser-humano." Dessa vez me sinto viva e certa do que eu sou. Me sinto tão melhor e mais forte do que esses ridículos, desprezíveis e horrorosos universitariozinhos de merda.

À eles, e a cada um que se acha melhor por não ser gordo ou acha que se simpatizar é ter peninha: FUCK YOU SO!!!!! Não precisamos agradá-los, não precisamos da opinião deles nem sequer precisamos deles at all. Sou linda e perfeita. E nesse mundo de MORONS, sempre achamos quem concorde que a verdade é uma questão de opinião. E que nós GORDOS, feios e vulgares, não saimos por aí vomitando nossas opiniões sobre valores estéticos.





quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Mortos sem lápide.

Talvez esteja na hora de responder uma pergunta que você me fez há muito tempo atrás. Você jogava sobre mim uma pilha de pequenas lembranças concretas, cartões, cartas, desenhos, fotos e aliança. Nessa época te disse a verdade. De fato não sabia o que fazer com essas coisas que ainda estão todas guardadas em um lugar reservado da casa. Como pequenos esqueletos de bebês natimortos no guarda roupa.
As vezes os visitava, como a viúva que manteve o corpo do marido amarrado à uma árvore e quando queria consolo ia até os ombros do fétido cadáver escorar delicamente a cabeça e contar sobre seu dia.
Mas talvez já seja hora de deixá-los partir.
Todos os beijos, momentos de silêncio, meu reflexo em suas pupilas, uvas brancas no reveillon, o barulho sincronizado do meu coração e da caixa de correspondência. Os desenhos em espirais e o nosso futuro assassinado por minha imaturidade e negligência.
Todos os retratos, pinturas, frases escritas no verso e pequenas caricaturas de nós como uma coisa só. As rosas vermelhas, o buquê de lírio, sua fantasia de colegial, o nariz levemente arrebitado, as orelinhas de elfo. Essas são coisas que sentirei muita saudade. Sua maneira de nunca me deixar dormir. Sua pintinha secreta e sua borboleta roxa. Te machuquei tanto. Nada justifica o que fiz. Nem mesmo o medo.
Alianças de prata com nomes gravados.
Talvez não doa tanto deixar vocês partirem. Já me livrei dos meus cabelos longos que você prendia ao me abraçar. Já me livrei dos meus cabelos loiros que você dizia ter muito verde.
Um dia que estiver sozinha aqui(porque isso é uma coisa que se faz quando ninguém está por perto), vou fazer uma pequena fogueira. Talvez dê um último beijo. Provavelmente vou chorar muito.
Talvez com a fogueira e as cinzas que se levantam com o vento, vou deixar algumas lembranças partirem também. 
Tenho que admitir que vocês se foram da minha vida há muitos anos atrás. Eu mesma já me fui, por tantas mudanças que ocorreram por dentro e fora. 
Portanto "Adeus meus amores". "Adeus" ao máximo que me é permitido despedir, porque parte de mim morreu com vocês. Parte de mim morreu com esse inesxistente nós. Vou carregá-los para sempre independentemente de me livrar de seus resquícios físicos ou não. 
Pois há um lugar na lembrança. Um lugar dolor. Onde se visitam os mortos sem ter necessariamente que se construir lápides.