sábado, 13 de agosto de 2016

Ciclos

Que dádiva é o cíclico. Essas relações que se renovam, o cabelo que se alonga. Não tenho medo de mudar. E estou tão satisfeita que minha vida aqui na cidade chará tenha se renovado. O inverno das árvores desnudas é necessário. Aprecio a beleza do despir se das folhas velhas.
Aprecio a beleza da amizade que engatinho com o meu pai, que quem nos tornamos tenha nos permitido algum afeto e alguma convivência, que antes nem sequer imaginava ter um dia.
Tenho sentido a primavera das amizades com outrem chegar singela como as primeiras flores de ipê.
Fiquei com medo de ficar para sempre sem folhas, mas tiveram as que nunca cairam e tiveram umas bem verdinhas, aquele verde-limão que só a folhagem nova tem.
Não superestimo o meu afeto, mas por ele ser legítimo, não o falseio. Sou péssima em manter coisas por conveniência, principalmente pessoas. Se o afeto é só meu, se percebo, eu vou atrás de quem consiga retribuí-lo.
E tenho muitos amigos de quem morro de saudade, separados de mim pelo dia a dia, então definitivamente não vou desperdiçar carinho.
Tem também as folhas que ficaram velhas, caíram, mas voltaram a ser broto e hoje são folhas formosas, daquelas fortes que de longe se vê os veios. Aprecio ter um coração que sabe perdoar e entender.
Mas nem tem assim tanta compaixão, ainda faltam muitos ciclos, talvez até nunca consiga, amar quem só me oferece a sombra de árvores alheias, ou só aproveita a minha, tendo eu um jardim tão bonito comigo.